quinta-feira, 29 de maio de 2008

A sonhar venci mundos
Minha vida um sonho foi.
Cerra teus olhos profundos
Para a verdade que dói.
A Ilusão é mãe da Vida: Fui doido, a tudo por Deus.
Só a loucura incompreendida
Vai avante para os céus.

Fernando Pessoa.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Conto erótico turco.

Todo dia, durante anos, quando Salim chegava em casa, sua doméstica Jacira servia o jantar e ia tomar banho. Até que um dia, Salim estava jantando e ficou ouvindo o barulho da água, pensando na Jacira tomando banho.

Mastigava a comida e pensava na Jacira tomando banho...
Mastigava a comida e pensava na Jacira tomando banho...
Mastigava a comida e pensava na Jacira tomando banho...
Mastigava a comida e pensava na Jacira tomando banho...
Mastigava a comida e pensava na Jacira tomando banho...
Mastigava a comida e pensava na Jacira tomando banho...

Até que se levantou da mesa e foi até o banheiro. Bateu na porta:

- Jacira, você está tomando banho?
- Estou sim seu Salim.
-Jacira, abre a porta pra Salim.
- Mas seu Salim, estou nua!

- Jacira, abre a porta pra Salim!
- Jacira, abre a porta pra Salim!
- Jacira, abre a porta pra Salim!
- Jacira, abre a porta pra Salim!
- Jacira, abre a porta pra Salim!

Jacira não resiste e acaba abrindo a porta.
Salim entra no banheiro, vê a Jacira nua e pergunta:

- Jacira, quer foder com Salim?
- Mas seu Salim..., eu não sei...

- Jacira, quer foder com Salim?
- Jacira, quer foder com Salim?
- Jacira, quer foder com Salim?
- Jacira, quer foder com Salim?
- Jacira, quer foder com Salim?

- Sim, quero sim, seu Salim, pode vir que sou toda sua ...
Então, Salim põe a mão no registro e diz:

- Não vai foder Salim não!!! Chega de gastar água!!!


Um minuto de silencio pela pobre Jacira...

terça-feira, 27 de maio de 2008

Voilá, Veríssimo.

CRÔNICA DA LOUCURA
Luis Fernando Veríssimo

O melhor da Terapia é ficar observando os meus colegas loucos. Existem dois tipos de loucos. O louco propriamente dito e o que cuida do louco: o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra. Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos. Se não era louco, ficou.

Durante quarenta anos, passei longe deles. Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso, como louco confesso, que estou adorando estar louco semanal.

O melhor da terapia é chegar antes, alguns minutos e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera. Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas. Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer dali a pouco. Ninguém olha para ninguém. O silencio é uma loucura.

E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses. Acho que todo escritor gosta desse brinquedo, no mínimo, criativo.

E a sala de espera de um 'consultório médico', como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu. Senão, vejamos: Na última quarta-feira, estávamos:

1. Eu
2. Um crioulinho muito bem vestido,
3.Um senhor de uns cinqüenta anos e
4. Uma velha gorda.

Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual seria o problema de cada um deles. Não foi difícil, porque eu já partia do principio que todos eram loucos, como eu. Senão, não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados.

(2) O pretinho, por exemplo. Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para levá-lo até aquela poltrona de vime. Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam o namoro e não conseguiu entrar como sócio do 'Harmonia do Samba'? Notei que o tênis estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza. O olhar dele era triste, cansado. Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala. Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro. Talvez apenas a cabeça. Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro. Podia ser perigoso. Afastei-me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadas furtivas para dentro da mala assassina.

(3 )E o senhor de terno preto, gravata, meias e sapatos também pretos? Como ele estava sofrendo, coitado. Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo. Corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques. Já notaram? Observo as mãos. Roia as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável. Como era infeliz esse meu personagem. Uma hora tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, interrompendo o Paulo Coelho da outra. Faltava um botão na camisa. Claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas. Homossexual? Acho que não. Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles. Tingido.

(4) Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa. Como sofria meu Deus. Bastava olhar no rosto dela. Não devia fazer amor há mais de trinta anos. Será que se masturbaria? Será que era esse o problema dela? Uma velha masturbadora? Não! Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava. Estava no quinto cigarro em dez minutos. Tensa. Coitada. O que deve ser dos filhos dela? Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos. Tinha cara também de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve-Rainha por ela, se a conhecesse.

Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu psicanalista.Conto para ele a minha 'viagem' na sala de espera.

Ele ri, ... ri muito, o meu psicanalista, e diz:

'- O Ditinho é o nosso office-boy.

- O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá no Ipiranga e passa aqui uma vez por mês com as novidades.

- E a gordinha é a Dona Dirce, a minha mãe.

- E você, não vai ter alta tão cedo... '

sexta-feira, 9 de maio de 2008

As Dionisíacas.






Por Amanda Biasi

"... mas porque sentiu forte necessidade de penetrar em caminhos seus. Mal sabia o quão turvos eles seriam."

De que adianta enxergar e viver o mundo, se não somos capazes de transformá-lo? É quando me lembro de todo o Marx lido e relido. Eu? Bem queria gritar para os quatro ventos o que insiste em sair de mim. Ou aquilo que insiste em ficar, engasgando aqui o meu peito, laringe, fossas nasais, alma. Aquilo que me asfixia. Vivo também dessa maldita hipocrisia cristã que me leva a acreditar cegamente que sou uma pessoa única, diferente. Mas se sou tudo isso que julgo ser, porque a simples idéia de olhar para mim mesma me gera tanta repulsa? Não. Não sou Apollo. Em mim, a parte mais viva e intensa é a caótica, mórbida. A que festeja e que se vende por uma dose de qualquer coisa. A que tem medo de enxergar e que atinge os próprios olhos, com a frieza de quem já não mais os merece. Que Nietzsche não mais postergue seu medo e se levante de seu túmulo para dizer 'olá' aos seus Dionísios puramente insensatos.