segunda-feira, 21 de julho de 2008

A Chuva.

Por Amanda Biasi


Você olha mas não vê. Sente as lágrimas correrem pelo rosto, mas não chora. Quer, mas não faz. Voce, muitas vezes, nem quer. Sua cabeça dói, mas ainda assim não pára de pensar, parir.

E quer gritar, mas a voz se cala.

Quer sumir, fugir, voar.

Sabe, no entanto, que vai sentir mais uma vez a sensação, o fogo, a paixão que outrora inventara a seu prório talante. Ah, a paixão! Que entra e machuca, anestesia e depois refresca tudo de novo.Aquela mesma paixão, da qual está cansada mas prestes a ceder.E a velha promessa banguela, caquética, quase morta, a ecoar:
-Só mais uma vez.

O nosso amor a gente inventa
para se distrair.
Certo?

domingo, 6 de julho de 2008

O nascimento do amor.


Seus olhos passearam por aquela sala durante alguns minutos, cada qual absorvendo um pouco do ar de mistério, ansiedade e desejo. Quando pararam, se encontraram bem no meio, no chão, pés acima, mãos abaixo, o toque com toda a rudeza do delicado. E tudo o que se passava dentro dele refletia-se fora dela, numa sincronia perfeita. A mente ditava o que o corpo fazia, e toda a segurança do controle diluía-se no medo e no prazer. Guiava sua amada, como que numa dança. Os joelhos se confundiam naquela coreografia não acabada. Todo aquele jogo de corpos iniciava uma história que não veria o seu próprio fim. Havia nascido em seu leito de morte. Pudera, quem sabe, dizer que possuía o seu fim em si mesmo. Por tão superficial, pensava-se que tudo cairia no esquecimento. E de fato assim seria, não fosse o sentimento nascido, nutrido, forjado por eles; esse há de sobreviver, com nobreza, beleza e altivez. Com vida própria. Sem necessidade de protagonistas. Sem responsáveis, sem identidade.


por Amanda Biasi