domingo, 24 de agosto de 2008

A verdade.




A brincadeira é de fato perigosa. Você brinca e brinca e logo se empolga nesse excitante jogo de pensamentos que até se esquece que estava apenas brincando. Chega até mesmo a pensar que pode perder o jogo já ganho.
O que significa isso que você pensou?
Não sei.
Muitas vezes eu me condenei por simplesmente não saber das coisas. Essa frase, inclusive, já se tornou inexoravelmente vulgar para aqueles que a viram sair tantas e tantas vezes de mim.
E o que posso eu fazer contra as leis da Física? Quem não sabe, não sabe.
Não queria citar a "física" aqui, desta vez, como tantas vezes faço. E esse desejo tinha um motivo importante: cansei da lógica.
Seria lógico pelo menos inventar, quando não se sabe algo.
Lógica e imaginacão.

Um misto condenável. Não ousaria em minha vida - pelo menos não por enquanto - diluir a pureza da imaginação em doses amargas de lógica. E mesmo sendo perigosa e pouco mágica a miscelânea de duas coisas completamente opostas, ainda assim muitas vezes elas se completam.
O que faz da vida algo ainda mais estranho.
O fato é que palavras não existem.
E, permitindo-me neste momento recorrer a minha propria lógica: aquilo que não existe necessita-se de coisas existentes para que ocupem seus parcos lugares.
O que é uma pena, aliás.
Encanta-me a idéia de algo nao existir e ainda assim ter o seu lugar no mundo.
Mas o que significa isso que você pensou?
Eu nem cheguei a pensar.
As palavras - esssas doces sombras misteriosas - se fazem tão necessárias às vezes, que elas mesmas se escrevem.
E o fazem muito bem sozinhas.
Você não acha?

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Tributo a Montaigne

Por Amanda Biasi


Da vida tira-se toda a calmaria e a tensão, as quais procura o ser.
Perspicaz, ainda que menos lúcido, é aquele que consegue arrancar dela aquilo de que não se necessita. O que simplesmente flui; e que assim como entra, sai.
Como um pulmão que não se censura e se entrega aberto e sereno ao prazer da brisa úmida e pura, mesmo correndo todo o risco do vício.
Não é mais suficiente tirar da vida simples e grotescamente aquilo que é dado de se ter. Mas - de forma doce e profunda - aquilo que o espírito deseja e procura.
A sensatez é muito real para nós.
Queremos a loucura do impossível, a fruição completa do imprevisível.
Conhecemos a nobreza do pensamento, entretanto optamos por saborear.
Não desejamos o poder, mas a paixão. Não nos interessamos pelo bom, mas pelo belo. Não sabemos o que é método, mas sim o que é o acaso; e não precisamos mais de planos, mas de acontecimentos.
Almejamos o amor, ainda que em sua forma menos louvável.
O regozijo, o prazer, o risco.
O riso.

Temos sede
e não a simples vontade de beber a vida.