quinta-feira, 3 de março de 2011

Dreda

Feita em 23/10/2010

Laços tímidos
sutis, escondidos
no mais profundo mistério
que nos envolve
e nos carrega
juntas
feito enxurrada de verão
rumo à mais inexorável
e indizível
afinidade.

E é quando seu rosto
de pele alva
e olhar profundo
sorri, e se diverte
numa alegria toda peculiar
e na sua complexa simplicidade
devaneia.


Essa é a essência, afinal
própria, inerente
à quem nasceu para ser o mundo
ainda que calada, mesmo que não saiba
ser tudo e todos, dentro de si.

Esse poema vai então, ao encontro
do ser mais loucamente múltiplo
da alma de uma
romântica
assumidamente incurável

e que dependente, sim
da plenitude de viver e ser vivida
de forma artesanal e artística.

Esse poema se transforma aos poucos
num hino à loucura
na celebração lírica
do dia de hoje.

E que o rock carimbe, sele
e valide nossa bebedeira
nossos versos cegos
nossa aventura cósmica no universo
aos carinhos com os dentes
e a lei da gravidade
para que possamos cair
de novo
de boca no chão
a cada abraço alcoolizado
desde que mais uma vez
seja seguido de sinceras palavras de amor.

E mais do que tudo isso

ser eterna em você
meu anseio silencioso e secreto
ser eterna na sua intensidade
e em tudo aquilo que você, sem saber
significa sussurra transcende
e traduz
em mim.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

quebra a cabeça para tentar esfriar o coração
tentativa falida de não sofrer
o todo não é separado
as dicotomias simplesmente não existem
a não ser que as inventemos
pelo mero prazer da experimentação

seu coração não pode sentir sozinho
e sua razão não pode
nem mesmo existir
sem o sentimento correspondente
sofrer dói, se machucar é consequencia
daquele que tem consciencia de que
é
e pronto.

queria tanto poder te falar que as vezes
seu pragmatismo me assusta
e me encanta
você é o misto perfeito da arte
e da repetição
do derreter
e do se recompor
do ser e do parecer.
você é o intermediário entre
os opostos mais distantes
você, muitas vezes
é ambos os extremos.

Querer o que se quer
contemplar os desejos mais vivos
obedecer as leis de si mesmo
é o que eu chamo
de egoísmo essencial.

Mas o seu olhar melhora o meu
não quero nunca
ser incapaz de te enxergar
e sentir suas cores
deduzir seu olhar
de escutar sua alma.
Quero, ao contrário
inspirar e ser inspirada
exalar, estremecer,
tocar, trocar,imaginar, sonhar
desejar
escrever você.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Saudade

Bahia e nós: a metáfora da verdade inventada.

Os pés enterrados até o fim na areia molhada
E os passos esculpindo
Caminhos de ilusões gostosas, a magia sincera
E insuportavelmente intensa
Das estrelas, acima de nós.
Vaivém do vento
Reinventando tudo.
Love lady love
O coração pulsando forte
Querendo tocar o todo, com ritmo e leveza
Pedindo para ser apreciado
Como a música cubana a la Buena Vista
Que só se toca uma vez no bar.
Românticos sim
Pela loucura poética
E na insensatez patética
dos sonhos
Que são vividos assim
Daquele breve momento que passa
Tão devagar
Que parece que ficou aqui.




Sopre-se ao vento
seja ventania
espalhe-se no mundo
e em seu próprio universo
empresta um pouquinho da sua intensidade
pro infinito...

sábado, 17 de outubro de 2009

Será?

Sei
que suscintamente sou
suspiro

e sádica é a sutura sutil
a selar
esse meu sentido

Somente sigo

suspenso e surdo
tento salvar-me
da solidão.

Mas subiremos, sim!
eu sei
sentaremos todos
em nosso surto
singelo sincero e estúpido

Será
suave e saboroso
saltar acima
desses sonhos secretos

Misteriosamente
solveremos a santidade
em nossa
possa de suor.

Secarei sua boca
e silenciarei a sina
Senhor!

Pecados sísmicos hão de surgir
sobre nossos sentidos
censurados.

E a sístole salgada dessa
oração
sucumbirá.

A cada dia sentiremos surgir
o sol simplesmente surdo
e cintilante
sintetizando
o sorriso do mundo

sem sensibilidade então
serei sede
serei saudade
cegueira selvageria e sutileza
serei a soma
não-sã da sorte.
Serei som susto suspense
e sacanagem.
Mas ainda assim
serei sua

Sempre.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

"Colocar angústia nas pedras"

Humilde dedicátoria ao ídolo literário



ao pensar luas
criei estrela
no meu medo
eterna fui

calei quando escutei
o mundo
absorto no nada infinito.


Sou paisagem também.
a paz dos leitos ainda me machucam
a nascente se faz viva
porque nasce
e o sol brilha além de nós.


à tardezinha, bem perto da cadeira de balanço
existe um grilo rouco
que fala sobre
tudo isso


Ouça-o quem pode
quem não pode
se sacode.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Ode à um Amigo - Parte II

Tão parecidos
que podem tocar as estrelas.
E essa alma minha que não resiste ao choque de ser
supita, explode, se rende
toda vez que encontra a sua.

E é sim naquele momento tão rápido
tão efêmero
e desértico
que seu olhar assimétrico
(tendo a assimetria como atributo característico da vivacidade louca e incontestável)
modela todos os sentimentos
e toda a emoção maluca
que explode aqui
por fora e por dentro
quando meus ouvidos absorvem com cuidado
o movimento perfeito dos ritmos descompassados
dessa sonora e intensa melodia que só seu corpo produz.

E meu coração se entrelaça ao seu
aos poucos
e então vê-se a dança cardíaca mais perfeitamente coreografada
o cavalheiro guiando sua dama
cuidadosamente
em passos fortes e pulsos híbridos
inconstantes
vibram o salão de sal absoluto.

E meu corpo assiste calado
o universo se abrindo sincero
à possibilidade de nos acomodar em sua infinitude estrelada
como essa dança minuciosa
e as batidas impetuosas
embriagadas de paixão e malandragem.

E seu toque sugere a eternidade de tudo isso
por mais sete minutos.
Assim como o sol minguado da aurora boliviana
pede pelo abraço matinal imprescindível
Das borboletas com asas de cílios
voando silenciosamente por entre meu rosto
e meus delírios.

Essa poesia que nos envolve
Meu bem, é um fato
Vejo versos escritos
Sorrateiros, vestidos
Do mais imemorial de nossos atos.
Ofereço, pois a poesia com cheiro de chuva
Ao poeta mais desregrado, à realidade mais surreal
Ao amor indizível, à eternidade irregular
E à voz veludada do seu violão
A banhar nossa noite
Para sempre.

domingo, 16 de agosto de 2009

Por ora.

Sentia-se embevecida pela água da chuva, que de tão fria a fazia sentir mil agulhas encravadas por todo o corpo, uma mistura onírica de prazer intenso e dor profunda e os olhos fechados colocavam a necessidade da pele em primeiro lugar, a pele, aquela parte da gente que absorve tudo, por onde tudo entra. Mas já não importava, e essa é a grande questão. Muitas coisas em sua vida já não importam mais. Resplandecia seu rosto triste, ainda que absorta na sensação do deleite de tudo. agonizava-se sozinha, no meio do nada escuro, por entre a corrente incessante de lágrimas medrosas e confusas que escorriam devagar. Devagar. Aos poucos o frenesi louco foi dando lugar à plenitude bastarda. Aquela esperança simulada que às vezes nos faz pensar que estamos salvos. Suou frio e teve vontade de acabar-se em sentimentos lágrimas e medo. Ser aquela estrela, aquela ali no céu, brilhante e cheia de vida, mas que cujo destino frio é transformar-se em gás e depois desvanecer-se em nada. Mandavam-na reerguer-se, levantar o olhar, seguir em frente mas sua alma queria só o aconchego da desilusão, a dor consentida e permitida, sem revoltas dessa vez. Submissa, clara e sem muitas palavras, só dor.