domingo, 16 de agosto de 2009

Por ora.

Sentia-se embevecida pela água da chuva, que de tão fria a fazia sentir mil agulhas encravadas por todo o corpo, uma mistura onírica de prazer intenso e dor profunda e os olhos fechados colocavam a necessidade da pele em primeiro lugar, a pele, aquela parte da gente que absorve tudo, por onde tudo entra. Mas já não importava, e essa é a grande questão. Muitas coisas em sua vida já não importam mais. Resplandecia seu rosto triste, ainda que absorta na sensação do deleite de tudo. agonizava-se sozinha, no meio do nada escuro, por entre a corrente incessante de lágrimas medrosas e confusas que escorriam devagar. Devagar. Aos poucos o frenesi louco foi dando lugar à plenitude bastarda. Aquela esperança simulada que às vezes nos faz pensar que estamos salvos. Suou frio e teve vontade de acabar-se em sentimentos lágrimas e medo. Ser aquela estrela, aquela ali no céu, brilhante e cheia de vida, mas que cujo destino frio é transformar-se em gás e depois desvanecer-se em nada. Mandavam-na reerguer-se, levantar o olhar, seguir em frente mas sua alma queria só o aconchego da desilusão, a dor consentida e permitida, sem revoltas dessa vez. Submissa, clara e sem muitas palavras, só dor.