terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Saudade

Bahia e nós: a metáfora da verdade inventada.

Os pés enterrados até o fim na areia molhada
E os passos esculpindo
Caminhos de ilusões gostosas, a magia sincera
E insuportavelmente intensa
Das estrelas, acima de nós.
Vaivém do vento
Reinventando tudo.
Love lady love
O coração pulsando forte
Querendo tocar o todo, com ritmo e leveza
Pedindo para ser apreciado
Como a música cubana a la Buena Vista
Que só se toca uma vez no bar.
Românticos sim
Pela loucura poética
E na insensatez patética
dos sonhos
Que são vividos assim
Daquele breve momento que passa
Tão devagar
Que parece que ficou aqui.




Sopre-se ao vento
seja ventania
espalhe-se no mundo
e em seu próprio universo
empresta um pouquinho da sua intensidade
pro infinito...

sábado, 17 de outubro de 2009

Será?

Sei
que suscintamente sou
suspiro

e sádica é a sutura sutil
a selar
esse meu sentido

Somente sigo

suspenso e surdo
tento salvar-me
da solidão.

Mas subiremos, sim!
eu sei
sentaremos todos
em nosso surto
singelo sincero e estúpido

Será
suave e saboroso
saltar acima
desses sonhos secretos

Misteriosamente
solveremos a santidade
em nossa
possa de suor.

Secarei sua boca
e silenciarei a sina
Senhor!

Pecados sísmicos hão de surgir
sobre nossos sentidos
censurados.

E a sístole salgada dessa
oração
sucumbirá.

A cada dia sentiremos surgir
o sol simplesmente surdo
e cintilante
sintetizando
o sorriso do mundo

sem sensibilidade então
serei sede
serei saudade
cegueira selvageria e sutileza
serei a soma
não-sã da sorte.
Serei som susto suspense
e sacanagem.
Mas ainda assim
serei sua

Sempre.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

"Colocar angústia nas pedras"

Humilde dedicátoria ao ídolo literário



ao pensar luas
criei estrela
no meu medo
eterna fui

calei quando escutei
o mundo
absorto no nada infinito.


Sou paisagem também.
a paz dos leitos ainda me machucam
a nascente se faz viva
porque nasce
e o sol brilha além de nós.


à tardezinha, bem perto da cadeira de balanço
existe um grilo rouco
que fala sobre
tudo isso


Ouça-o quem pode
quem não pode
se sacode.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Ode à um Amigo - Parte II

Tão parecidos
que podem tocar as estrelas.
E essa alma minha que não resiste ao choque de ser
supita, explode, se rende
toda vez que encontra a sua.

E é sim naquele momento tão rápido
tão efêmero
e desértico
que seu olhar assimétrico
(tendo a assimetria como atributo característico da vivacidade louca e incontestável)
modela todos os sentimentos
e toda a emoção maluca
que explode aqui
por fora e por dentro
quando meus ouvidos absorvem com cuidado
o movimento perfeito dos ritmos descompassados
dessa sonora e intensa melodia que só seu corpo produz.

E meu coração se entrelaça ao seu
aos poucos
e então vê-se a dança cardíaca mais perfeitamente coreografada
o cavalheiro guiando sua dama
cuidadosamente
em passos fortes e pulsos híbridos
inconstantes
vibram o salão de sal absoluto.

E meu corpo assiste calado
o universo se abrindo sincero
à possibilidade de nos acomodar em sua infinitude estrelada
como essa dança minuciosa
e as batidas impetuosas
embriagadas de paixão e malandragem.

E seu toque sugere a eternidade de tudo isso
por mais sete minutos.
Assim como o sol minguado da aurora boliviana
pede pelo abraço matinal imprescindível
Das borboletas com asas de cílios
voando silenciosamente por entre meu rosto
e meus delírios.

Essa poesia que nos envolve
Meu bem, é um fato
Vejo versos escritos
Sorrateiros, vestidos
Do mais imemorial de nossos atos.
Ofereço, pois a poesia com cheiro de chuva
Ao poeta mais desregrado, à realidade mais surreal
Ao amor indizível, à eternidade irregular
E à voz veludada do seu violão
A banhar nossa noite
Para sempre.

domingo, 16 de agosto de 2009

Por ora.

Sentia-se embevecida pela água da chuva, que de tão fria a fazia sentir mil agulhas encravadas por todo o corpo, uma mistura onírica de prazer intenso e dor profunda e os olhos fechados colocavam a necessidade da pele em primeiro lugar, a pele, aquela parte da gente que absorve tudo, por onde tudo entra. Mas já não importava, e essa é a grande questão. Muitas coisas em sua vida já não importam mais. Resplandecia seu rosto triste, ainda que absorta na sensação do deleite de tudo. agonizava-se sozinha, no meio do nada escuro, por entre a corrente incessante de lágrimas medrosas e confusas que escorriam devagar. Devagar. Aos poucos o frenesi louco foi dando lugar à plenitude bastarda. Aquela esperança simulada que às vezes nos faz pensar que estamos salvos. Suou frio e teve vontade de acabar-se em sentimentos lágrimas e medo. Ser aquela estrela, aquela ali no céu, brilhante e cheia de vida, mas que cujo destino frio é transformar-se em gás e depois desvanecer-se em nada. Mandavam-na reerguer-se, levantar o olhar, seguir em frente mas sua alma queria só o aconchego da desilusão, a dor consentida e permitida, sem revoltas dessa vez. Submissa, clara e sem muitas palavras, só dor.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Poesia sem fim

Pela graça de sentir-se rodopiar, girou mais umas cinco voltas, deixou que a corda ficasse firme, dura, toda contorcida até o fim, lá no finalzinho perto do galho da árvore que a segurava acima do chão. E a cada volta, seus pés pareciam mais distantes. O medo envolvia, a excitação do descontrole contagiava, e o coraçãozinho de criança pequenino como só, pulava em ritmo de ciranda com alegria genuína. Naquele dia, ou melhor, naquele momento tão breve ela contemplou o tudo, sentiu-se toda. Vestido estampado de desenhos minúsculos esvoaça em círculo, fazendo mostrar as pernas, sentir o vento passar pelas coxas magricelas. Não sabia onde estava, isso é certo, mas era onde tudo era mais completo mais cheio de si mesma. O ritual durou apenas poucos minutos e sabia-se que por algum motivo, por entre a linha do tempo e do espaço, talvez através daquilo a que chamamos razão aquele momento duraria ainda menos, menos, cada vez menos, pouco sobraria - até que então se perderia por completo. Quem sabe, aliás se ao lugar daquele contentamento efêmero viria logo atrás uma outra parte do momento, a parte inversa oposta contrária, aquela porção da verdade tão essencial quanto sua metade, temerosa e vazia? O vazio. O nada. E antes fosse tão poético quanto parece, antes fosse tudo tão ingênuo. Nada além da morte poderia vir após a sensação intensa da vida. Experienciou então a agonia de um quarto agressivamente branco frio como uma calota de gelo. Tudo o que havia em si se subverteu, tudo, pulou para fora num salto perfeitamente sincronizado. E foi quando pôde perceber-se casca. Tudo de si olhando para si própria - até aquilo que julgava impossível ser - o encontro irônico e perverso do criador com sua obra. Podia tocar com a ponta dos dedos tudo exatamente tudo o que construíra até então e podia se sentir estremecer. Como fosse tudo aquilo muito pútrido, firmou os olhos assustados na cena hostil à sua frente e desejou com toda a força destruir cada pedaço de si na tentativa de não ser. Festival de poses e vícios. Caos a céu aberto: aniquilar cruelmente o que fosse insuportavelmente correto ou não, tudo o que pudesse ter sido bom ou ruim para outros e para si. E o olhar mudo oscilando do branco ao lilás, observava todos os recortes e seus ídolos pré-adolescentes e fazia daquela angústia mais uma forma de gritar pra dentro o que devia sair. Cansaço sem reação, doía em silêncio. O mundo girando devagar e a alma vagando lenta em cólera. Sozinha. Passados três minutos e o mundo pareceu leve. Todo o medo converteu-se em êxtase, pôde rapidamente contemplar o divino, escutar o Universo, escorrer como um rio. Presa em sua liberdade, assemelhava-se àquela árvore copada de um verde reluzente e delirante, e à magnificência da Natureza com seus gemidos e das formas e do luar, o cheiro da terra e das lágrimas emocionadas. O mundo refletia a perfeição de ser amor e eterna inocência e de poder ser recebido pelos seus sentidos aguçados, que obervavam meticulosamente e apalpavam o fluxo de vida somados aos movimentos de todas as espécies, vindos de todos os seres, animados ou não.
Celebrava mais uma vez sua incrível aptidão de girar em torno de si própria - e viver e morrer simultaneamente - em poucos minutos. No teatro mágico de sua vida viu-se novamente refletida no espelho quebrado, estilhaçado em mil partes. Alcançava outra vez a dor e a alegria de ser múltipla, de ser tudo, de ser humana

terça-feira, 31 de março de 2009

O que há entre o sim e o silêncio.

A dor ingênua e penetrante do anti-séptico autoaplicado. Solidão cortante da redoma de cristal, vidraça manicomial e o estupro da liberdade. Você ouviu e calou com os olhos, e todos entenderam o motivo. Não foi possível renunciar a carne trêmula e a visão embaçada, condição louca e sagrada de quem sente por sentir. Doeu e vai doer de novo - repetidas vezes, quase sempre do mesmo jeito. C'est la vie; é assim: o peito à mostra por baixo de toda a histeria controlada e o medo quente passivo calando alto e se fazendo ouvir, pulsando e embebedando as regras. Tolice e cegueira, a incandescência sorrateira do que em nós é penumbra. Penumbra desgarrada de sua sombra. Obscuridade pueril que engatinha e rasteja imunda com a barriga no chão. Dor, mas não compaixão. Fazer doer para ver sangrar por dentro e sentir o azul celeste do fluido romântico que carrega os amantes nos ombros. E depois lamber tudo e satisfazer as mais lascivas necessidades da alma, negar decisivamente a cabeça já puída, a mente ácida suicida. Aceitação da mais sublime forma de ser gente, e desejar cair de boca nos outros, incorporar tudo o que puder ser ruminado, fagocitar o cheiro, absorver a cor, saborear os desejos íntimos e delicadamente sombrios que vão além do que se pode sentir em si mesmo. Ser você no outro, deixar-se possuir plenamente. Encravar as unhas macias no peito à frente e rasgar suave para ver escorrer lá de dentro o mesmo belo caos que se veria sair daqui.
Assumir enfim a excelência daquele único olhar que não teve a pretensão de ver
só apreciar.



segunda-feira, 9 de março de 2009

Vernissage

Angústia que chega, arrebata machuca borbulha e adormece faz doer e cresce, o coração aflito pequeno, inflama reclama angústia que clama que chama e que ama. amor que reflete e remete a culpa, a dor angústia que sangra e mancha e desmancha e dói e corrói, amor que não pára não sara, não sai. Angústia sorrateira maldita e enferma, doente de gozo, o pudor a falta a loucura, só pode ser ela, a loucura. De repente não sente não demora não pára não separa, e tudo se espalha e se esvai, dormência e demência, um saco sem fundo, soluço profundo não deixa, calado. olho sem olhar, cabeça parindo pensando e vomitando, palavras dilemas poemas e suor. Ardência dos vivos a penitência, dos que tem sede e que tem medo, dos covardes, os aflitos malditos cabritos, rebanho do vício da paixão do sim e do não, a ambivalência de uma nação que vive aqui bem dentro de si. Si, eu nós vós, angústia senhores, incerteza da voz. Ambíguo o umbigo no meio, do lado o mundo parado e no fim, o início.
Angústia morta-viva quando vem pede luva de pelica.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

À ele.


Tudo que eu senti já nem cabe mais aqui
e para você, o muro
para mim
apenas um quarto escuro.

De repente me senti pequena
meus pés nem tocam o chão
e para mim, o gozo
para você, meu coração

Minhas mãos trêmulas
um dia tiveram segurança
e para você, donzelas
e para mim, lembrança.

Eu e meus pensamentos
de novo no mesmo dilema
e para mim, loucura
para você, esse poema

Fatos embalados numa redoma de cetim
e para o céu, você
e para você
a mim.

O abraço, um passo
pequenino espaço
dura só um minutinho
todo esse compasso

que desemboca no fim.

A foto que eu olho
tem você do meu lado
e lá fora, meu bem
já não é mais assim

E a minha criança
que chora e dança
e às vezes se cansa
disso tudo

ruim

A cabeça enlouquece
e tudo permanece
nem uma lágrima desaparece
de dentro de mim.

Não dependo de nada
não dependo de mim
não dependo mais tempo
não dá mais
mas dá sim.