A dor ingênua e penetrante do anti-séptico autoaplicado. Solidão cortante da redoma de cristal, vidraça manicomial e o estupro da liberdade. Você ouviu e calou com os olhos, e todos entenderam o motivo. Não foi possível renunciar a carne trêmula e a visão embaçada, condição louca e sagrada de quem sente por sentir. Doeu e vai doer de novo - repetidas vezes, quase sempre do mesmo jeito. C'est la vie; é assim: o peito à mostra por baixo de toda a histeria controlada e o medo quente passivo calando alto e se fazendo ouvir, pulsando e embebedando as regras. Tolice e cegueira, a incandescência sorrateira do que em nós é penumbra. Penumbra desgarrada de sua sombra. Obscuridade pueril que engatinha e rasteja imunda com a barriga no chão. Dor, mas não compaixão. Fazer doer para ver sangrar por dentro e sentir o azul celeste do fluido romântico que carrega os amantes nos ombros. E depois lamber tudo e satisfazer as mais lascivas necessidades da alma, negar decisivamente a cabeça já puída, a mente ácida suicida. Aceitação da mais sublime forma de ser gente, e desejar cair de boca nos outros, incorporar tudo o que puder ser ruminado, fagocitar o cheiro, absorver a cor, saborear os desejos íntimos e delicadamente sombrios que vão além do que se pode sentir em si mesmo. Ser você no outro, deixar-se possuir plenamente. Encravar as unhas macias no peito à frente e rasgar suave para ver escorrer lá de dentro o mesmo belo caos que se veria sair daqui.
Assumir enfim a excelência daquele único olhar que não teve a pretensão de ver
só apreciar.
Assumir enfim a excelência daquele único olhar que não teve a pretensão de ver
só apreciar.